Constantine está preso. Teria ele finalmente sido posto para pagar por seus delitos vertiginosos? Ou seria só mais uma de suas maquinações megalocultistas para alcançar algum objetivo?
Brian Azzarello, o primeiro autor estadunidense a escrever regularmente a revista Hellblazer. O autor decide abrir sua fase fechando nosso fumador de silk cut numa penitenciaria, trazendo uma visão diferente sobre a série. Amaldiçoado é um arco de estreia memorável, com momentos e sacadas nunca antes explorados e personagens bem desenvolvidos, que mais parecem ter saído diretamente da série OZ. A arte inconfundível de Richard Corben, com seus homens baixinhos e cabeçudos de expressões faciais exageradas, o famoso “é-escroto-mas-eu-gosto”consegue casar perfeitamente com o roteiro, criando algo deformadamente legal. A ação do arco começa mostrando um personagem azarado que precisa submeter seus orifícios íntimos em troca de proteção. Em seguida, os horizontes são expandidos e somos (Re-re-re-re-re)apresentados a John Constantine, o sacana favorito da garotada vertigueira, com sua empáfia de sempre, incomodando os figurões do lugar um a um, sem nunca se intimidar ou fazer amigos (e nem sodomia com seus companheiros de pavilhão). Após torturar estupradores, fazer os valentões muçulmanos literalmente darem as costas a Alá e os nazistas se cagarem de medo, nosso sangue de demônio favorito vence o mais ameaçador de todos os prisioneiros numa partida de poker e surpreendentemente não sofre represálias, mas inesperadamente conquista sua amizade. Infelizmente para Constantine, amigos às vezes nos dão presentes inesperados, e o seu foi entregue em mãos sujas de sangue de policial. Constantine acaba torturado por inúmeras forças que o fazem surtar e eis que só o fato de estar presente piora a já delicada situação de uma cadeia, criando um inferno em forma de rebelião, capaz de causar inveja a muito demônio. A situação vai se enrolando até chegar no ponto de parecer que simplesmente não há solução, porém toda história merece e precisa de um final, sendo ele satisfatório ou não. Azzarello cria um arco muito bem estruturado em si, de forma a ser autosuficiente e ainda criar boa expectativa pelo próximo.
A história consegue ser inovadora dentro do universo do mago, ao mesmo tempo em que não se torna algo irreconhecível, sendo capaz de cativar tanto fãs novatos quanto os mais antigos. Mas não leia esperando um conto com o ritmo inglês de sempre, pois o autor não possui os mesmos referenciais dos autores antigos e nem tentou sincretizar o estilo de seus colegas, algo que seria impossível de se fazer com excelência e de quebra ainda causaria aquele desconforto familiar conhecido como “vergonha alheia”. Ao invés disso, o autor decidiu bater no peito com sua habilidade de criar tipos sacanas americanizados e jogar isso em um inglês tipicamente debochado e egoísta, sem perder as características principais e trazendo novidades ao personagem.
Numa forma geral, é uma história para ser consumida de forma rápida, pois cada capítulo consegue ser bem conciso e resumido em si, criando a curiosidade e a necessidade de ler o seguinte imediatamente. E para os leitores mais cabeçudos pode até gerar algumas reflexões filosóficas sobre conseqüências do encarceramento, estupro e afins…
Se inicia assim de forma graciosa a fase “amaldiçoado” de John Constantine: Hellblazer. O ponto negativo da edição é o “DCVERTIGO” na lombada, que estragou a continuidade da estante. Fica assim exposta minha reclamação, Panini!
OBS: Para aqueles que acharam as cenas de estupro e violência dentro da prisão ofensivas ou ultrajantes, não se preocupem, pois segundo as más línguas, o próximo arco envolve temas mais leves, como drogas e zoofilia.
Editora Panini.
Compila as edições #146 a #150 da série John Constantine, Hellblazer.
132 páginas. Capa cartonada.
R$20,90