Resenha Relâmpago: OPEN BAR – EDIÇÃO DEFINITIVA

Por inúmeras vezes, bebendo com meu grupo de amigos de longa data, surgiu o assunto de montarmos um bar e administrá-lo como sócios. Dependendo do nível de álcool que já tinha rolado, trocávamos altas ideias mirabolantes sobre como tocaríamos os negócios, qual lugar seria perfeito, quanto seria o investimento inicial de cada um, pensávamos nos eventos, identidade visual etc. No dia seguinte, todos os planos eram deixados pra trás junto com a ressaca, mas a ideia sempre retornava na bebedeira seguinte. Obviamente, nenhum de nós tinha experiência em como administrar um bar, mas isso nunca chegou a ser levado em consideração. Nossa amizade e boas ideias bastavam. A última coisa em que pensávamos era em lucro e víamos todo esse lance do bar como um lugar em que pudéssemos nos encontrar para beber umas, jogar conversa fora e receber outras pessoas. Nunca chegamos perto de dar o passo inicial, muito provavelmente por motivos de “mundo real”, mas a ideia geral e vários dos planos que fizemos não morreram e acabam voltando à tona em alguns momentos. E pra mim, ler Open Bar foi um desses momentos. Nunca subestime o poder de uma ideia.

Escrita e desenhada por Eduardo Medeiros (A história mais triste do mundo, Sopa de salsicha), Open Bar conta a história de dois amigos de infância, Leo e Barba, que decidem assumir o bar que Barba herdou do pai. No testamento, o filho só teria posse completa do imóvel se mantivesse o Caverna Pub funcionando por no mínimo três anos. Barba, que nunca teve um bom relacionamento com o ausente pai, resiste de início mas por estar completamente quebrado e prestes a ser despejado do apartamento que divide com Leo, aceita o desafio de fazer o negócio dar certo, chama seu melhor amigo para ser seu sócio e ambos mudam para o bar, literalmente. Pode-se dizer que Open Bar, apesar da trama simples de drama e humor, é uma história sobre muitas coisas. Sobre os altos e baixos da vida mundana e a importância de retirar lições de ambos. Sobre cultivar boas amizades e respeitá-las. Sobre o potencial de mudança interna em cada um de nós e como isso pode redirecionar nossos rumos. Sobre aceitar os vários ciclos que se encerram e recomeçam durante a vida, que o passado não deve ditar nosso caminhar e que nem toda despedida é definitiva. E também sobre vida e morte. A narrativa não-linear é muito bem utilizada, de forma a sempre complementar algo pertinente a trama, aprofundando também a dinâmica entre personagens. E que personagens carismáticos, não só Barba e Fred, mas todos os outros coadjuvantes são extremamente palpáveis e com personalidades bem definidas. É fácil e praticamente involuntário identificar-se com eles, discordar deles e julgá-los também. E tal qual a vida mundana prepara-se para reviravoltas intensas, muitos altos e baixos, surpresas e claro, aquelas doses de ironia e humor ácido que não podem faltar.

A arte estilizada e cartunesca traz fluidez pra trama, apesar de contrastar com os momentos mais pesados e tensos da história. Cenas no passado e presente são bem definidas pelo uso das cores. Open Bar é um gibi que se lê de uma vez só, difícil parar depois que se inicia. Em 2014, Eduardo Medeiros começou a publicar Open Bar em webcomic e em 2015 veio o primeiro volume impresso pela Stout Club. Na CCXP de 2017, uma edição definitiva com a história completa foi lançada pela Panini em parceria com a Stout Club.

Editora Panini / Stout Club
Capa cartonada, 272 páginas, R$57,90

Reinaldo Almeida Jr
Reinaldo Almeida Jr, também conhecido como Ray Junior, é narrador de RPG, leitor inveterado e um apaixonado por quadrinhos que anseia fundar seu próprio clube da luta de cultistas a deuses lovecraftianos, viajar pelo multiverso em busca de suas outras versões de terras paralelas para lhes contar que nada é verdadeiro e tudo é permitido, dando início a revolução invisível que nos elevará a quarta dimensão.

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