Resenha Relâmpago: WOLVERINE – INIMIGO DO ESTADO

“Na maior parte do tempo eu preferiria grudar uma lula raivosa na minha cara do que ler um quadrinho de herói.”

É com essa frase nada amistosa ao cenário que Garth Ennis abre o prefácio de Inimigo do Estado, um encadernado do Carcaju que a Panini reimprimiu recentemente e que compila o arco de Mark Millar (Supremos, Velho Logan) e John Romita Jr (Hulk contra o mundo, Kick-Ass) a frente do título. Não é estranho para qualquer um que conheça o trabalho de Ennis imaginar ele proferindo tal afirmação. Discursos inflamados, ciência do impossível, grandes poses e uniformes berrantes nunca foram a praia dele. Mas esse arco está longe disso. Aqui o que vemos são garras, armas afiadas, ninjas, sangue e até SENTINELAS!

Em Inimigo do Estado, Logan é pego numa arapuca e passa a trampar pra Hidra, que não está sozinha nessa. Hidra, Tentáculo e uma organização chamada Aurora da Luz Branca (criada pelo Millar para essa história) liderada pelo mutante Gorgon. Mas calma, se você acha que já contei tudo e estraguei tua experiência com spoiler, saiba que está redondamente enganado. Isso é apenas o cenário montado por Millar para transformar o melhor no que faz em uma arma contra os heróis. Nesse ponto vemos como todo mundo tem medo do Wolverine.

Com esse hype de John Wick no teto, foi impossível para mim não associar os dois protagonistas. No cenário dos filmes do assassino, ele é conhecido pela alcunha de Baba Yaga, numa clara alusão a um ser mítico, uma lenda, um verdadeiro Bicho Papão. Todo esse clima é retratado nas páginas de Inimigo do Estado. Quando a SHIELD avisa aos heróis que Logan está sob o controle da Hidra, um verdadeiro rebuliço se instaura. Mutantes se trancam no Instituto, o Quarteto Fantástico liga um escudo gigantesco em torno de todo o Edifício Baxter e heróis são aconselhados a andarem em duplas, porque quando o mutante mais letal de todos se torna um vilão, absolutamente ninguém está a salvo.

No melhor estilo “What if…?”(O que aconteceria se…?) Millar nos entrega em pouco mais de 10 edições um verdadeiro filme de ação (como ele se especializou em fazer) em todos os sentidos, desde aquela cena de luta bonita e violenta até alguns diálogos bem fraquinhos e previsíveis. Mas fica claro o foco dele em entregar um belo arco massavéio com muita porrada e pouca profundidade. O que me ganhou nessa edição foi justamente isso, a transparência do que estava sendo feito ali. É porradeiro do início ao fim, com um plot bem simplista e digno de planos maquiavélicos da década de 80 por parte do principal antagonista, o Gorgon.

Gorgon é o perfeito vilão de filme de ação. Totalmente esteriotipado, raso, com um plano megalomaníaco e bem poderoso até o final. Ele protagoniza um triângulo amoroso bem bizarro dentro da Hidra e tem poderes bem mal explicados, como se surgissem conforme a necessidade. Wolverine é de longe um vilão melhor que ele. Para retratar o x-men como um assassino da Hidra, Millar tem duas sacadas dignas de mérito, mesmo que num plot bem fraco. Primeiro, o plano da Hidra de matar heróis para trazer eles de volta como soldados permite que o Logan passe o rodo em alguns infelizes sem remorso. Segundo, um embate constante da consciência de Wolvie com sua psique assassina programada pela Hidra permite que ele se segure em alguns momentos, o que gera coisas tanto boas quanto um pouco ruins.

A arte do Romitinha é foda dentro do contexto e não me incomodou como em alguns outros títulos dele. O roteiro do Millar é um filmaço de ação, tanto para o bem quanto para o mal. Tem diálogos previsíveis, alguns outros esquisitos e alguns poucos que são até dispensáveis. O vilão fica numa linha tênue entre o clichê e o caricato, como nos filmes de brucutu dos anos 80, mesmo quando Millar tenta criar uma profundidade nele com flashbacks do seu passado e falha miseravelmente. Apesar de tudo isso, para quem sente saudades de um bom gibi massavéio e porradarias honestas, vai curtir muito a leitura. Quem quer algo mais denso e menos cinematográfico, nem deveria perder seu tempo. Ao menos, em momento algum, Millar tenta enganar ninguém aqui.

Por Pedro Rodrigues/@prodrigues27

Editora Panini
Capa dura, 312 páginas
R$ 68
Compila as edições 20 a 32 de Wolverine.

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Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

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