Zona de Combate ou “Como jogar uma ideia boa no lixo com estilo”

Que a Netflix revolucionou o mercado de consumo no streaming não podemos negar. Que ela produz conteúdo próprio de maneira mais prolífica a cada ano também não. Mas justamente por essa quantidade de produções temos uma chance maior de falha. Desde seu início nesse mercado a Netflix tem nos presenteado com ótimas produções como Narcos, House of Cards e Stranger Things. Demolidor voltou a ser legal depois do fiasco com Ben Afleck por causa da locadora vermelha. Mas quando ela entrega algo ruim é com o mesmo comprometimento. E hoje, infelizmente, vim falar de um desses casos ruins. O indefensável Zona de Combate.

Zona de Combate se passa num futuro distópico, focado num conflito na Ucrânia, onde os EUA estão exercendo seu já conhecido controle da paz. Numa base militar a quilômetros do conflito um piloto de drone, o jovem Tenente Harp, resolve tomar uma decisão sem a autorização de seu superior e com isso causa a morte de dois jovens soldados para que outros 38 saíssem com vida. Essa decisão unilateral lhe custa uma punição: a transferência para uma unidade de campo, onde ficaria sob o comando do Capitão Leo (Anthony Mackie), que logo se revela um androide construído pelo exército americano. Juntos eles vão entregar vacinas para um grupo de refugiados e, com isso, conseguir informações sobre um terrorista que pretende roubar códigos nucleares. Até aí bem clichê, não é mesmo? É aí que começa a covardia de Zona de Combate.

O filme traz uma boa proposta para o protagonista, retirar um jovem de trás de uma tela de computador e trazer ele para o campo de batalha, onde ele passa a entender como as decisões dele no comando de uma poderosa arma voadora afetam a vida das pessoas em zona de conflito. E o filme joga com isso durante dois terços da obra, mostrando um Harp confuso e desnorteado com a vida real, fora do seu joystick que mais parece um video game do que uma guerra. Lá é fácil para ele tomar decisões frias e rápidas sobre vida e morte de quem está a quilômetros dele. Em campo, isso muda de figura. A proposta do androide Leo também é boa, trazendo um robô com personalidade própria e muita autonomia em suas ações, beirando a completa liberdade de um soldado humano, por exemplo. Mas aí nos encaminhamos pro ato final e tudo aquilo que parecia uma boa proposta, desanda de uma maneira inacreditável.

O ato final consegue ser piegas, incoerente e extremamente forçado, colocando Leo e Harp em rota de colisão, dando explicações esdrúxulas para todos os eventos que desencadeiam isso, e como cereja do bolo, aquela velha massagem no ego da nação norte americana que protege todos os países “indefesos”, mas que em momento algum pediram por isso. É um final que além de jogar toda a construção de crítica feita durante o filme fora, ainda força o clichê do herói inusitado que salva o mundo e ignora todo o desenvolvimento do Leo, que durante todo o filme é apresentado como uma máquina de combate definitiva, mas que estranhamente se esquece disso no final. Bem, impossível continuar sem dar spoilers sobre essa duvidosa obra da locadora vermelha. Vou deixar que vocês tirem suas próprias conclusões sobre essa bola fora da Netflix, mas já aviso que não recomendo.

“Tu leu esse roteiro até o final?

Texto por @prodrigues

Pedro Rodrigues
Perdido na vida há trinta anos, sem vocação pra ser "cult" e fã dos escritores britânicos. Estuda tarô, cabala, hermetismo, magia do caos e teoria da Mãe Piruleta que traz seu amor em três dias em território nacional. Em meio a tudo isso descobriu seu animal de poder, uma lontra albina. Lendo de bula de remédio a Liber Null e Necronomicon, seu propósito com a escrita é esvaziar a mente e evitar com isso a perda do seu réu primário.

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