Em 1984 Clive Barker lançava seu primeiro tomo da coletânea Livros de Sangue, que fez com que Stephen King o denominasse como o “expoente do terror moderno”. Dentro dessa coletânea estaria The Forbidden (O Proibido, na tradução brasileira). Na década de 90 essa coletânea foi trazida ao Brasil, mas num formato simplista que representava boa parte da qualidade gráfica dedicada a esse tipo de literatura na época. Em 92 esse conto seria a base do filme Candyman (O Mistério de Candyman, na versão brasileira) e que terá um remake pelas mãos de Jordan Peele (Get Out, Us) em breve. Agora, em 2019, a Darkside nos traz o conto numa versão de luxo, visualmente atraente e graficamente impecável, marca registrada da editora especializada em horror. Mas seria esse o melhor formato para a obra de Barker com os Livros de Sangue?
Candyman conta a história de Helen Buchanan, uma pesquisadora imersa numa tese sobre as pichações como uma forma de comunicação urbana e todo o contexto sociológico envolvido. Essa pesquisa a leva para um conjunto habitacional decadente e repleto de casas vazias, tornando-o perfeito alvo para pichadores e grafiteiros. Helen é surpreendida em meio a sua pesquisa por histórias macabras de assassinatos cometidos no local, com requintes de crueldade e violência exacerbada. A figura por trás desses assassinatos é o misterioso Candyman. Daí pra frente a pesquisa dá lugar a uma busca pela verdade, onde Helen luta para se manter sã em meio a um cenário de horror que parece escorrer para fora da realidade a qual está acostumada.
O conto traz um vilão sedutor, com bons argumentos e que nos faz até simpatizar com ele de certa forma. Helen é uma boa protagonista e seus dilemas pessoais são bem trabalhados na trama, dando uma boa explicação para sua caminhada em direção ao desconhecido. A curiosidade e o orgulho de Helen são muito bem explorados por Barker para que você não tenha aquela sensação de uma inocência forçada que beira a burrice vista em muitas obras do gênero. Como pano de fundo o conto também pincela a desigualdade social gritante do local onde se passa a trama, que chega a lembrar cenários de futuros distópicos ou cyberpunk. Um outro tema que tem presença em Candyman é o conceito de crença versus ceticismo e como o descrédito pode ser uma ótima fonte motivacional.
Ao todo, os Livros de Sangue tiveram seis edições, cada uma trazendo entre 4 a 6 contos inéditos do autor, produzidas entre os anos de 84-85. Alguns desses contos se tornaram filmes e até roteiros para séries de TV, muitos tendo colaboração direta do próprio Barker em sua adaptação e direção. Entre estes se destaca o filme O Mistério de Candyman, trazendo Tony Todd como o assassino do título, em uma ótima atuação inclusive, o que era meio incomum para filmes do gênero na época. Apesar de não ter tido um sucesso tão marcante quanto outros slashers da década de 90, Candyman trouxe características importantes para o gênero do horror.
O livro tem uma leitura fácil e um ritmo bom de ler que somado a seu tamanho faz com que a leitura seja bem rápida. Com suas 112 páginas, pode ser lido em poucas horas. Capa dura, com relevo e uma linda arte. Mas o questionamento que fica é se vale a pena consumir um conto tão curto, pelo mesmo custo de uma obra maior e com vários capítulos, mesmo que a parte gráfica seja impecável. O que vale mais, a capa ou a obra? Como atenuante a esse ponto, devemos considerar também a relação da editora com o formato de livros baseados em filmes que marcaram o cenário de horror e fantasia, porém fica a reflexão. Deixando essas questões de lado o que me sobra, como fã do trabalho de Barker, é o desejo de que a Darkside traga mais dele o quanto antes, assim como fizeram com H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe. Obras como Livros de Sangue e Raça das Trevas merecem uma nova edição em terras brasileiras.
E pra terminar, uma musiquinha temática. Até o próximo post!
Pedro Rodrigues (@prodrigues27)
Editora Darkside
122 páginas. Capa dura.
R$ 49,90