Leitura da Quarentena #16: O GOURMET SOLITÁRIO

Sabe aqueles dias em que estamos na rua, acabamos de resolver algo e bate aquela fome?, pois essa obra é justamente sobre esses momentos de pequenos prazeres que nos proporcionamos quando paramos pra comer, aquele momento relaxante, aquela comida saborosa. Então sente-se, se acomode e vamos viajar na obra do Jiro Taniguchi chamada O Gourmet Solitário.

Nosso protagonista é dono de uma loja de artigos importados, pelo jeito não muito abastado, mas que trabalha duro pra dar sustento a si mesmo e sua família. Vamos acompanhando ele ao longo do mangá andando pelos bairros do Japão afora e degustando comidas no geral, já que ele é dono de uma fome insaciável (muitos irão se identificar, talvez todo mundo 😋) e que ama parar num pequeno estabelecimento pra comer, e sim, é isso mesmo que você leu!, nosso protagonista ama aquele famoso “botecão”, a famosa comida de rua.

O Gourmet Solitário | Devir Empresas
As iguarias que não achamos que ficamos morrendo de vontade de provar!

Seguindo a filosofia do grande mestre que já não está entre nós, o Anthony Bourdain, a comida sempre foi algo para entender a própria condição humana, a cultura, a vivência de cada país, por isso em cada lugar novo que nosso protagonista descobre ele também desvenda as histórias daquela cidade ou bairro, descobre um documento histórico e patrimônio vivo que é o lugar onde ele próprio vive. O ato de comer, de beber e também o ato de contar histórias, uma das formas mais primordiais de expressão humana, talvez até a mais antiga, já que dizem que os primeiros seres humanos já eram remunerados por cozinhar desde os tempos das cavernas.

Andar pelos bairros do Japão com o protagonista é como dar aquela caminhada no fim da tarde.

Aqui não temos robôs gigantes ou superpoderes, apenas pessoas vivendo suas vidas, e isso é uma das coisas mais bonitas desse mangá, e dos mangás do Jiro Taniguchi em um modo geral. É o ato de viver o presente, de parar aquele tempo de correria pra simplesmente se dar ao prazer de se deleitar com uma comida nunca antes provada, de ouvir aquele papo de alguma mesa ou trocar aquele papo com o garçom ou dono do estabelecimento; é sobre entendermos a nós mesmos e criarmos laços, afinal, ele mostra muito bem em cada capítulo como a comida nos liga, a confiança que nós geralmente temos com quem faz nossa comida, a certeza ao olhar o lugar e o cozinheiro de que aquela comida será boa, é como uma ligação profunda. Esse é, sem dúvida, um dos mangás mais relaxantes para se ler depois de um dia corrido (porém com o risco de ficar morrendo de fome ao terminar os capítulos), inclusive não recomendo ler todos os capítulos de uma vez. Assim como uma boa comida, os capítulos têm que ser apreciados – degustados, seria mais apropriado? – a cada página, em pequenas porções, calmamente sendo saboreadas pelos nossos sentidos, prestando atenção em cada detalhe, cada bicicleta daquela esquina, das pessoas passando, ou da própria estrutura daquele bairro onde estamos, seja um moderno ou com estrutura mais antiga.

O Taniguchi é profissional em te deixar com fome

Em cada detalhe bem desenhado nos pratos, confesso que assim como eu, você irá morrer de fome e desejar loucamente essas comidas maravilhosas que tão raramente achamos aqui, porém é uma jornada pra entender os verdadeiros pratos consumidos popularmente no Japão, seja aquela sobremesa dos mais velhos que dão uma saidinha de casa para apreciar algo diferente, ou aquela refeição caprichada consumida pelos proletários da cidade, cada traço é extremamente delicado e nos faz sentir que realmente estamos vendo aquela comida de modo real. ATENÇÃO: NÃO COMAM PAPEL!

A edição vem lindamente caprichada pela Editora Devir, com uma capa e sobrecapa maravilhosas, a sobrecapa mostrando nosso protagonista pensativo, refletindo em qual estabelecimento ele irá provar algum prato novo, e a capa mostrando ele de costas andando por algum bairro do Japão, o traço do mangaká rico em detalhes, mostrando que sua obra não é só sobre comida, mas apenas uma jornada relaxante para dedicarmos um tempo a conhecermos nós mesmos.

A linda capa da edição BR pela Devir!

Você pode comprar ela no preço de capa por apenas 45 reais e pode apostar que serão 200 páginas de pura massagem mental, então se acomode, escolha seu prato japonês, aprecie o saquê ao seu lado, e apenas viaje para a terra do sol nacente!

Texto by: Matheus Martiniano @martinianofromars

Minuteman ZN
De vez em quando, um minuteman convidado aparece aqui na Zona Negativa para resenhar um quadrinho, ou para publicar a próxima matéria que irá, por fim, explodir sua cabeça, subverter a realidade e nos levar ao salto quântico para o próximo nível dimensional. Não sabemos exatamente quem são essas pessoas, a não ser que elas abram mão do anonimato e decidam assinar seus verdadeiros (??) nomes ao final do texto. Mas francamente, 'quem' elas são não é o preocupante. Preocupe-se com as palavras delas, que rastejam lentamente para dentro da sua cabeça. Todos são minutemen. Ninguém é minuteman.
O grande irmão está de olho em você. Aprenda a ser invisível.

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