O Maior Poder de Shazam: A Esperança

Você que é leitor ou leitora de quadrinhos desde a infância ou adolescência, provavelmente já deve ter tido diversas interpretações sobre seu super herói favorito à medida em que foi envelhecendo, e se tornando um cidadão com contas a pagar, assim como eu. Quando criança os meus heróis favoritos eram quatro: Batman, Superman, Homem Aranha e o Hulk. Mas nenhum destes mencionados me influenciaram tanto quanto Shazam ou para os mais saudosistas, “Capitão Marvel“, mas independente de rótulos são a mesma pessoa, ou melhor, personagem.

A primeira vez em que conheci Shazam foi no quadrinho O Reino do Amanhã roteirizado por Mark Waid e desenhado por Alex Ross, e é uma história onde o Capitão Marvel não é o protagonista, mas sim uma das maiores ameaças em potencial. Resumidamente, O Reino do Amanhã se passa num futuro onde os heróis clássicos da DC estão velhos e “aposentados”, e uma nova geração de supers desvirtuados estão em ação e uma série de problemas ocorrem fazendo com que os grandes heróis da “velha guarda” retornem para pôr ordem na casa, mas tudo isso ocorre de forma tranquila? Claro que não! Enfim, onde o Shazam entra aí?

Na história de Waid e Ross, Billy Batson (que no passado era uma criança, o alter-ego de Capitão Marvel) cresceu e desenvolveu a mesma aparência do super herói em que se transforma, ou seja, quando Batson vira Capitão Marvel, basta apenas ele trocar de roupas (hehe). Mas Billy sofreu uma lavagem cerebral e está sob controle de Lex Luthor que o usa para combater Superman, e foi isto que achei interessante; durante a história existe um certo mistério acerca do ainda não apresentado “Capitão Marvel”, o único super capaz de derrotar o Superman. E nos momentos finais do quadrinho, quando a história segue para um desfecho desastroso, Shazam, longe da influência de Lex, se mostra um grande herói ao realizar um feito incrível, e isto também me fez criar mais afeição pelo personagem que eu só conhecera nessa HQ.

Mas foi em Shazam – O Poder da Esperança, escrita por Paul Dini e desenhada também por Alex Ross, que descobri ali uma essência poderosa do personagem, que só poderia funcionar com um super herói que também é um pré adolescente. Billy Batson trabalha numa rádio e recebe um pacotão de cartas endereçadas ao Capitão Marvel contendo os mais variados tipos de pedidos. Dentre eles um lhe chama a atenção, o pedido de uma mulher para que o herói visite um hospital infantil para proporcionar um pouco de alegria as crianças dali. E o Billy/Shazam aceita(m) o pedido.

Durante a narrativa o Capitão Marvel visita o hospital, interage com as crianças que o recebem de forma espetacular, e as levam para passear com direito a uma viagem voadora dentro de um carro. Entre as crianças do hospital existe um garoto em especial que fica acuado com a presença do super herói e não puxa conversa, seu nome é Bobby Bronsky. O menino sofreu diversas violências do pai, uma delas resultando em sua perna quebrada. Esse é um tipo de problema que não envolve corrupção, roubo de jóias ou a ameaça ao planeta Terra, adversidades que os super heróis geralmente enfrentam, mas é um problema que também gera traumas profundos, a nível psicológico, que uma criança pode carregar por toda a vida, e neste sentido não cabe ao Capitão Marvel utilizar de sua força para resolver o problema, mas sim de um dos seus seis atributos, a Sabedoria de Salomão, onde utiliza sua persona como Billy Batson para conseguir conversar com Bobby e lhe ajudar de uma maneira mais próxima e efetiva que provavelmente um adulto não conseguiria, e ao Shazam resta ter uma “conversinha” com o pai de Bobby para resolver esse problema de uma vez por todas.

“…e ao Shazam resta ter uma “conversinha” com o pai de Bobby para resolver esse problema de uma vez por todas.”

Em outro momento da história, Capitão Marvel encontra uma menininha em estado terminal de câncer no hospital infantil. Seus grandiosos poderes o tornam um dos seres mais poderosos da Terra, capaz de derrotar o Superman, mas ainda assim, ele não consegue curar ninguém, e neste ponto existe uma mensagem bem emocionante nas entrelinhas: O Capitão Marvel sabe que nesse momento seus incríveis poderes tradicionais são inúteis, e por um breve momento ele fica triste por isso, mas ainda assim continua com a menina lhe proporcionando alegria nos menores e frágeis momentos da vida, e assim como Shazam, mesmo que tenhamos grandes poderes como o dinheiro Batman por exemplo, ainda assim não conseguiremos tornar o mundo um lugar 100% justo com um belo final feliz, (a história Paz na Terra, do Superman também ensina algo parecido referente a fome mundial, mas num outro post eu escrevo sobre isto).

E dentre vários super heróis, acredito que o Shazam seja um dos que mais carrega essa bandeira da esperança, é uma capacidade que por si só é um grande poder, não acha? Acredito que seja uma capacidade que todo herói, médico, dirigente de qualquer movimento social ou líder de alguma ONG deveria ter, pois veja bem, pessoas assim têm a capacidade de inspirarem as pessoas que estão sendo ajudadas, e muitas dessas pessoas vivem em tamanha angústia que já perderam toda a esperança na vida, ou pior, nelas mesmas, e sabemos que ter esperança num mundo caótico não é fácil e muitas vezes torna-se um ato de loucura, mas nestes momentos de dificuldade que ela é mais necessária, pois existem várias possibilidades de esperança, e a esperança representa justamente isto, possibilidade, uma alternativa para qualquer coisa. Sempre existe uma saída, uma conclusão possível.

Integrantes de um movimento social que batalham pelo fim das desigualdades e almejam uma sociedade mais justa com direitos plenos a todos os seres acordam todos os dias com a esperança de que as transformações sejam possíveis, e analisando as lutas históricas dos movimentos sociais, vemos que diversos direitos existentes hoje vieram dessa constante luta através dos séculos de pessoas que mantiveram esperança na batalha diária por direitos, muitas infelizmente não conseguiram ver essas conquistas em vida, mas nós desfrutamos de direitos que foram adquiridos através dessas pessoas, que deram suas vidas por um mundo melhor. Se as mulheres não tivessem batalhado por séculos em diferentes países pelo direito ao voto e colhido a esperança pela sua luta por igualdade, podem crer que ainda veríamos somente os machos nas urnas elegendo os “representantes” da nação, e vai saber o que mais.

Se o mundo não está legal, ainda pode existir a esperança em você se ajudar e ajudar as pessoas à sua volta, se um amigo está triste há a esperança de conversar e animar o dia dele, se um familiar precisa de dinheiro pra comer e você também está com pouca grana, ainda há esperança de um conseguir dinheiro com outra pessoa ou fazer uma rifa, enfim, a esperança estimula a inteligência a buscar soluções, possibilidades, inspiração, motivação, criatividade para continuar seguindo a vida ou morrer de maneira menos dolorosa. Claro que tudo o que falei não muda o fato de que vivemos em um mundo desigual, onde muitas pessoas não têm as mesmas oportunidades e plenas condições de desenvolvimento.

Evidentemente que existe uma guerra de classes que não é nada bonita, onde a classe mais rica (a dos grandes empresários) enriquece as custas da classe mais pobre (os trabalhadores), explorando-a e deixando-a na ignorância, e não farei uma espécie de “apologia a pobreza” ao enfatizar que o uso da esperança de forma cega será a solução para todas as desigualdades do mundo e assim alcançaremos a glória. Mas muitas vezes a esperança funciona como um canal de auto desenvolvimento do próprio potencial humano. Você gostaria de ter mais esperança? Comece acreditando em seus próprios potenciais, tenha esperança em você mesmo! Pelo menos, gosto de acreditar que o Capitão Marvel diria algo parecido pra mim, caso fizesse esta pergunta. Por isto ele é um dos super heróis de histórias em quadrinhos que mais me influenciam, uma pena que até hoje não tenha sido tão bem explorado pela DC Comics, e não, um filme ainda é muito pouco para um personagem tão mítico como ele! E você não precisa ter esse exemplo de esperança apenas com o Shazam, ele não é absoluto; Superman, Mulher Maravilha, Pantera Negra e tantos outros podem vir a ser essa representação. O que é importante é acreditar no Poder da Esperança! Que, para mim, é o maior de todos os poderes de Shazam.

Goes Murdock
Ler e escrever é uma necessidade diária assim como comer.

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