Resenha Relâmpago: COISAS SELVAGENS

Pois é, tá todo mundo ligado que a Vertigo foi pro vinagre absorvida pelo novo selo da DC chamado Black Label. O padrão estabelecido de leituras subversivas e fora da caixa foi perdendo o fôlego com o passar dos anos e o selo já não era mais atrativo para os criadores investirem suas idéias desde a recolocação da Image no mercado. Mesmo com a queda vertiginosa (que trocadilho horrível!) da qualidade das histórias nos últimos anos, o fim evoca um forte sentimento de nostalgia em toda uma geração de leitores que assim como eu, tiveram como porta de entrada para leituras fora do padrão super-heróis, títulos como Sandman, Preacher, Hellblazer, Transmetropolitan, entre tantos outros. É algo inevitável, mesmo tendo acompanhado de perto esse processo de morte lenta e as frustradas tentativas por parte dos editores de reverter esse quadro.
Com a ausência de grandes nomes entre os autores e os novos não agradando, quase nada se salva nos títulos mais recentes e não fosse a defasagem de alguns títulos clássicos na publicação nacional, a Panini estaria com sérios problemas para selecionar o material. Mas ainda assim esses novos títulos precisam ser publicados por aqui e a editora italiana tem se esforçado pra trazer o menos pior. E como verme que sou, tenho conferido boa parte deles, apesar dos pesares. Pois bem, vamos falar de Coisas Selvagens.

A equipe criativa até então era desconhecida pra mim. O roteiro é de Justin Jordan e a arte interna de Ibrahim Moustafa. As capas ficam por conta do competentíssimo John Paul Leon, esse sim um nome familiar.
A história trata de um projeto ultrassecreto do governo norte americano chamado Floresta Negra, que “recrutava” por todo o país crianças que exibissem características que indicassem psicopatia. Sequestrados do seio familiar, essas crianças eram rebatizadas com novas identidades e impostas a um brutal treinamento que tinha como objetivo transformá-las em agentes impiedosos, verdadeiras armas vivas a serviço do Tio Sam, sempre a postos para levar caos, medo, violência e destruição aos seus inimigos. Em dado momento os responsáveis pelo programa passaram a agir independentemente e logo foram cancelados pelo alto escalão. Todos os agentes foram emboscados e dados como mortos. Alguns poucos conseguiram escapar mas se dispersaram por anos, entre eles Abel e Caim, considerados os prodígios do Floresta Negra. Caim reúne parte dos sobreviventes e arquiteta um plano para se vingar dos seus antigos patronos, planos que incluem uma série de atentados terroristas em Nova Iorque. Em resposta, Abel é contatado para auxiliar o FBI a lidar com Caim, dando início a uma caçada cinematográfica, cheia de ação e com alta contagem de corpos.

Olha a cara do psicopatinha.
No treinamento, quem ficava por último era devidamente degolado pelo coleguinha.
A geração psico atuando nas missões que levam democracia e liberdade para os povos oprimidos.

Nessa missão, Abel tem a companhia da misteriosa agente do FBI chamada Kira, responsável por liderar a força-tarefa que o captura para obter sua ajuda.
Jordan se alonga pelas oito edições com cenas flashbacks do início do Programa Floresta Negra e a caçada contra Caim e seu grupo, com os terroristas sempre um passo a frente, até a conclusão. Adicione reviravoltas previsíveis ou que pouco impactam, muita violência, cenas de ação cheias de suspensão de descrença e temos em Coisas Selvagens uma HQ pré-fabricada para se transformar em roteiro de seriado ou filme de ação meia boca, algo no nível de um Mark Millar pouquíssimo inspirado e acompanhado de um desenhista bastante limitado nas cenas massavéio. Mais do mesmo em sua pura essência.
O escopo político não é aproveitado de forma satisfatória, deixando aquele gosto amargo de algo que poderia ter sido melhor desenvolvido, deixando clara a intenção de priorizar o thriller de ação-caçada-ao-terrorista-doméstico. Não parece ter sido o caso que ocorreu com algumas minisséries mais recentes da Vertigo, um claro adiantamento para conclusão de alguns projetos que até tinham potencial para um bom desenvolvimento como Lua do Lobo e Art Ops, por exemplo. A mensagem aqui é clara, Coisas Selvagens não vale seu dinheiro suado mesmo tendo capas fabulosas do John Paul Leon.
R.I.P Vertigo, obrigado pelas boas memórias. Olá, Black Label.

Editora Panini
Compila as edições #1 a #8 da minissérie Savage Things
Capa cartonada, 196 páginas, R$29,90


Curtiu essa resenha? Então siga essa Zona nas redes sociais e não perca nenhum conteúdo! Textos todas as quartas, quintas e sextas.

Reinaldo Almeida Jr
Reinaldo Almeida Jr, também conhecido como Ray Junior, é narrador de RPG, leitor inveterado e um apaixonado por quadrinhos que anseia fundar seu próprio clube da luta de cultistas a deuses lovecraftianos, viajar pelo multiverso em busca de suas outras versões de terras paralelas para lhes contar que nada é verdadeiro e tudo é permitido, dando início a revolução invisível que nos elevará a quarta dimensão.

Deixe um comentário